A OEA desmoraliza quem a integra, excetuados os EUA. É um imperativo moral, para os demais Estados, repudiá-la
JÂNIO DE FREITAS *
Com a
revelação de que o governo dos Estados Unidos espionou as comunicações
de 35 líderes mundiais, esvai-se em definitivo a explicação dada por
Barack Obama, nas revelações anteriores, de ação necessária à prevenção
contra o terrorismo. Trata-se mesmo e só de ato típico dos regimes mais
sórdidos e sistemas de governo inescrupulosos, como até agora se disse
de barbaridades assim em comparação com os Estados democráticos. Não é
esse, porém, o único efeito imediato de mais uma realidade americana
revelada por Edward Snowden.
A lista dos
35 não foi divulgada. Ainda que repita nomes presentes em revelações
recentes, como Angela Merkel, François Hollande, o mexicano Peña Nieto e
seu antecessor Felipe Calderón, o italiano Enrico Letta e Dilma
Rousseff, o acúmulo dá à lista um potencial explosivo. Só as duas
mulheres já citadas tiveram altivez e coragem de enfrentar Obama e o seu
poder. O provável é que, juntos, os homens citados sintam condições de
defender a dignidade dos seus países ao menos nos foros internacionais.
Presente já na primeira revelação, François Hollande até conseguiu,
agora, dizer que a França levantará na União Europeia o problema da
espionagem americana.
No nosso
caso, de brasileiros com Presidência, governo e empresas atingidas por
crime internacional de interceptação, o que se tem, quanto a foro
apropriado, não é mais do que a exibição de indignidade da OEA, que
explora o abusivo nome de Organização dos Estados Americanos. Os EUA são
um desses Estados. O Brasil é outro. O México, idem. Sujeitos, como os
demais, a regramentos rigorosos de convivência no âmbito das Américas,
sob controle e dever de aplicação entregues à OEA. Para quê?
Se não é, a
OEA parece uma organização especializada em fugas. Podem os EUA fazer o
que quiserem -- invadir, instalar-se ilegalmente em território alheio,
organizar a derrubada de governos, praticar ações de sabotagem da CIA a
governantes: tudo isso acontece sistematicamente na América Latina -- e a
OEA foge ao enfrentamento dessas transgressões a seus princípios como
se ela própria fosse peça da máquina transgressora. À qual, na omissão,
acaba mesmo por incorporar-se.
A OEA desmoraliza quem a integra, excetuados os EUA. É um imperativo moral, para os demais Estados, repudiá-la.
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segunda-feira, 28 de outubro de 2013
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