Preso o suspeito de extorsão do Padre de Lagoa Grande Sertão de Pernambuco
José Alexandro Diógenes (C) conversou com a imprensa ao deixar sede do GOE (Foto: Débora Soares / G1) |
O suspeito de ter extorquido o padre pernambucano José Rogério de Souza Quirino,
47 anos, informou, na tarde desta terça-feira (11), em entrevista à
imprensa, que recebia dinheiro do religioso porque mantinha relações
sexuais com ele. "Era como se eu fosse um garoto de programa. Trocava
dinheiro pelo sexo. Nunca ameacei, nunca
fiz chantagem", disse José Alexsandro Diógenes, 33 anos, preso em
flagrante nesta manhã, no Aeroporto Internacional do Recife, na Zona Sul
da capital.
José
Alexsandro conversou com jornalistas enquanto saía da sede do Grupo de
Operações Especiais (GOE), no Cordeiro, Zona Oeste, e era levado para o
Instituto de Medicina Legal (IML), em Santo Amaro, área central da
cidade, onde realizou exame de corpo delito antes de ser encaminhado ao
Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife.
O
advogado do padre e assessor jurídico da Conferência Nacional dos
Bispos do Brasil (CNBB), Hernesto Cavalcanti, acompanhou a prisão do
casal. À tarde, ele conversou com a TV Globo. "Tempos atrás, ele ajudou
esse casal, e continuou por um certo tempo, ora vinha a mulher ora vinha
o marido. Logo essa ajuda se tornou exigência, os valores foram
aumentando. Teve um dia que ele teve que desembolsar R$ 8.200", relatou.
O que a polícia já apurou
O
diretor do GOE, Cláudio Castro, disse que não iria revelar como
acontecia a extorsão ou quanto o casal recebeu do padre. "Vocês não vão
ouvir da minha boca como eles conseguiam o dinheiro, já que envolve uma
instituição [a Igreja]. Também não vamos divulgar quanto eles receberam
no total. Só hoje [11], foram R$ 5 mil e isso já vem acontecendo desde
2012", limitou-se a dizer.
A
versão do suspeito é que eles começaram um relacionamento quando o
padre atuava em Orobó, no Agreste de Pernambuco, e o casal morava em
Umbuzeiro, na Paraíba. "Quando dormimos juntos pela primeira vez, ele
disse que tinha uma casa em Carpina e que a gente podia se encontrar lá.
Nunca exigi dinheiro, acho que ele me dava porque tinha medo que eu
contasse", disse José Alexsandro.
Segundo
o delegado, o padre disse, em depoimento, que fazia os pagamentos
porque o casal afirmava que ia espalhar "um rumor" se não recebesse a
quantia, mas o delegado não quis dizer que rumor seria esse. Padre
Quirino também afirmou que se mudou de Orobó para Lagoa Grande, cidade
próxima a Petrolina, no Sertão, para fugir do casal, mas eles
continuaram a chantageá-lo por telefone, até que em janeiro o religioso
entrou em contato com a polícia.
"O
padre não devia nada, mas diziam que se ele não desse o dinheiro, iam
espalhar boatos pela cidade. Ele pediu transferência para Salgadinho,
depois para Petrolina. Chegaram ao ponto de falarem para o padre que
eles o seguiriam aonde fosse", disse Hernesto Cavalcanti.
Vocês não vão ouvir da minha boca como eles conseguiam
o dinheiro', disse o delegado Cláudio Castro
(Foto: Débora Soares / G1)
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"O
GOE começou a investigar, acompanhando as ligações. Quando eles pediram
R$ 10 mil, o padre disse que não tinha condições financeiras para pagar
a quantia, então acertaram em R$ 5 mil. Como ele viria para o Recife de
avião, concordaram em fazer a entrega do dinheiro ainda dentro do
aeroporto. Quando o padre saiu da mesa onde foi feita a negociação,
prendemos os dois em flagrante", disse o delegado Cláudio Castro.
"Minha
mulher é obesa e íamos usar o dinheiro para pagar uma cirurgia de
estômago. Ele disse que podia nos ajudar. Só queria poder falar com ele
agora para dizer: tá vendo o que você fez? Pior para nós dois", disse o
suspeito. A esposa dele, Maria José Araújo da Silva Diógenes, 22 anos,
também foi presa e levada para o IML. Após o exame, ela foi para a
Colônia Penal Feminina, no Recife.
Se
condenado, o casal pode pegar até dez anos de prisão. Ainda de acordo
com Cláudio Castro, outras pessoas serão ouvidas no inquérito, que deve
ser concluído em até dez dias.
Questionado
se haveria algum tipo de punição para o religioso, Hernesto Cavalcanti
foi categórico ao negar essa possibilidade. "Não vai acontecer
absolutamente nada, o padre não cometeu nenhum erro ao ponto de vista
canônico. Ele defendeu-se de um casal que o extorquia por medo. O padre
não cometeu nenhum crime do ponto de vista da Igreja", apontou.
Cavalcanti
disse ainda que o bispo Dom Severino de França está no exterior e
avalia a possibilidade de indicar um representante para conceder uma
entrevista coletiva à imprensa sobre o caso. Dom Severino é o líder da
diocese de Nazaré da Mata, onde o padre Quirino atua, no momento.
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