terça-feira, 6 de julho de 2010

Igreja deve orientar o voto, diz mentor de Marina

Dom Moacyr Grechi é considerado o mentor da candidata à Presidência Marina Silva (PV). A história é antiga. Doente e com três meses de vida que lhe davam os médicos, Marina procurou o bispo, que deixara Santa Catarina nos anos 1970 para viver no Acre. O pedido de ajuda se transformou em uma amizade que envolveu religião e política. E Dom Moacyr, nas palavras da própria Marina, hoje é responável "não só por muito do que aprendi na política, mas pela minha própria sobrevivência quando me ajudou a salvar a vida", conforme falou na convenção que a lançou à corrida presidencial, no dia 10 de junho.
Atualmente em Rondônia, Dom Moacyr defende que a Igreja desempenhe o papel fundamental de iluminar o cidadão na escolha do voto e acredita que política e religião têm o mesmo fim: o bem comum.
Ele evita falar de Marina, mas diz que as propostas de desenvolvimento sustentável são insuficientes: "Moram aqui 23 milhões de habitantes e precisamos pensar em um modo de sobrevivência para essas pessoas. (...) A Amazônia sempre foi vista como colônia. Como Portugal via o Brasil, o Centro-Sul do país enxerga a região do mesmo jeito".
Terra - Qual a relação entre religião e política? Por que, na opinião do senhor, as pessoas tendem a separar uma coisa da outra?
Dom Moacyr Grechi - A ligação entre fé e política é evidente, porque a política, no sentindo autêntico, busca o bem comum de todos. E a religião, mais especificamente o cristianismo, tem como finalidade o amor ao próximo, a comunhão fraterna. A política é uma expressão do amor. A ligação é evidente, necessária e sempre existiu. Não se deve, no entanto, confundir essa política da qual falo com a partidária. Para a partidária, a religião deve orientar e iluminar a escolha do cidadão na questão do voto, sobre quem está apto a administrar, sem desvio de dinheiro, etc. A Igreja não deve fazer política partidária, mas instruir e apontar para o bem-estar da grande maioria. O problema é quando a Igreja se corrompe, começa a fazer acordo com poderosos e tem medo de dizer o que acha errado. Acabamos não combatendo e não sendo profeta diante do poder constituído. A Igreja acaba negando a sua ambição de estar lado da Justiça. Mas se optar por ser autêntica, acabará incomodando e será obrigada a questionar as coisas. Não se pode concordar com aquilo que não é evidentemente ético.
Terra - Isso vale, na prática, para todas as igrejas?
Dom Moacyr - Aqui em Rondônia havia uma espécie de seleção. Enquanto católicos e luteranos se associavam em sindicatos e exigiam justiça, evangélicos pentecostais tinham uma visão mais de convivência pacífica, de separar as coisas e ser menos militantes. Não acham que a religião e a política têm ligação. Mas a gente não deve generalizar. Conheci gente da Assembleia de Deus que era do PT e fazia campanha de bicicleta. Mas, ainda assim, um número expressivo de igrejas pentecostais aceita o que o pastor diz. Isso não apenas em anos de eleições, trata-se de uma prática constante.

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