segunda-feira, 11 de abril de 2011

Venda de armas sobe 81% em cinco anos

Roubado de seu dono um ano antes do referendo nacional sobre o comércio de armas, o revólver calibre 32 usado no massacre aos alunos da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, Zona Oeste do Rio de Janeiro, reforça a teoria de especialista em segurança pública de que o cidadão de bem acaba armando o criminoso. Mesmo com toda a discussão sobre a venda de armas e munições, assunto que voltou à tona por causa da barbárie na escola carioca, esse tipo de comércio só vem crescendo no país. Dados da Diretoria de Fiscalização de Produtos controlados do Exército obtidos pelo Estado de Minas mostram que, em cinco anos, houve aumento de 81,2% na venda legal de armas em todo o país. De 2005 a março deste ano, 635.251 unidades foram comercializadas, sendo 43.374 delas em Minas Gerais, o que representa 6,8% das armas negociadas no Brasil.Em 2004, um ano antes do plebiscito que debateu com a sociedade o assunto e que agora ganhou novos defensores no Congresso, 63.674 pistolas e revólveres de uso permitido foram vendidos no Brasil. Com decisão favorável ao comércio de armas, este número saltou para 81.642 em 2006. Um ano depois, houve uma explosão: 133.754 armas a mais e os moradores do Distrito Federal (19.541), São Paulo (33.577), Rio Grande do Sul (20.235), Paraná (9.764) e Minas Gerais (9.339) foram os que mais movimentaram o negócio. Nos anos de 2008, 2009 e 2010, São Paulo bateu o recorde, colocando nas ruas 115.809 armas de fogo. O Rio de Janeiro registrou aumento e atingiu 10.442 armas vendidas em 2010. A Bahia também apresenta crescimento nos últimos anos.Para o ex-secretário Nacional de Segurança coronel José Vicente, a população está em risco. Segundo ele, mais de 80% das armas adquiridas legalmente acabam nas mãos de criminosos. “É uma triste realidade, mas qualquer restrição à compra de armas e munições ou ao porte de armamento é bem-vinda porque não há nenhuma perspectiva de melhora. O Brasil é o segundo país com maior número de mortos por arma de fogo, só perde para a Venezuela, e vive uma cultura de baixo controle, com fator de impunidade muito grande”, afirmou.José Vicente cita outro dado, que diz respeito às armas de vigilantes. No Rio de Janeiro, mais de um quarto das pistolas e revólveres desses profissionais têm como destino a ilegalidade. “Imagine um cidadão comum, que não tem nenhum treinamento? Estudos mostram que, em dois anos, essas armas são roubadas, furtadas ou extraviadas”, disse o ex-secretário. “Há ainda uma outra questão: o cidadão com uma arma na cintura ambiciona uma alternativa criminosa para resolver seus conflitos”, alertou.Estimativa do coordenador do Programa de Controle de Armas de Fogo do Movimento Viva Rio, Antônio Rangel, é de que há 17 milhões de armas em circulação. O pesquisador afirma que 90% dessas armas são compradas por cidadãos de bem que querem em se proteger, o que, para ele, é uma ilusão. Rangel esteve segunda-feira com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, para traçar estratégias da nova campanha do desarmamento. Vítima de dois assaltos com pistola na cabeça, ele votou a favor do fim do comércio de arma, em 2005, vai participar da campanha do desarmamento outra vez. Números do Exército mostram que 6,3 milhões de cápsulas foram vendidas somente 2009.“Somos um dos países mais armados do mundo. No imaginário popular, o que ameaça são as armas em poder dos bandidos. Mas ter arma em casa é perigoso. Arma é um instrumento para matar”, disse Rangel. Durante a campanha do desarmamento, 459 mil armas foram recolhidas. No plebiscito, 59 milhões de eleitores (63,94% dos votos) foram às urnas e votaram contra a proibição do comércio de armas e munições, e 33 milhões a favor. Entre 2005 e 2010, a Polícia Federal emitiu 62.873 registros de armaFiscalizaçãoEx-secretário adjunto da Secretaria estadual de Defesa Social de Minas Gerais, o sociólogo Luiz Flávio Sapori considera o Estatuto do Desarmamento uma boa legislação, mas critica a falta de fiscalização, impunidade e corrupção policial. “Ter arma em casa é alimentar o comércio ilegal, mas não mudaria a lei que já restringe severamente o porte de armas. Acho que o desafio é colocá-la para funcionar, aliada à campanha rotineira de desarmamento”, afirmou o pesquisador do Centro de Estudos e Pesquisa em Segurança da Pontifícia Universidade Católica de Minas (PUC-Minas). “Outro aspecto muito sério é o desvio de armas apreendidas, que voltam às ruas por causa de policiais corruptos”, criticou. Do Estado de Minas

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