quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Um Sertão de poesia em versos

















Escritores podem se inspirar pela cidade em que moram, pela natureza, pelo ambiente ao redor. O livro “O rio que não passa”, com textos de Inácio França, fotos de Tuca Siqueira e pesquisa de Alexandre Ramos e Cida Pedrosa, apresenta uma investigação sobre a relação entre o Rio Pajeú – que banha Pernambuco – com a produção poética da região, sugerindo a natureza como uma espécie de incentivo lírico. A obra será lançada hoje, às 19h, no Gabinete Português de Leitura.
O livro faz uma espécie de mapeamento da produção poética do Pajeú, falando sobre a vida dos poetas que moram naquela região e como o rio influencia a criação artística. Os envolvidos no projeto viajaram por vários lugares, ao longo de cinco meses, entre novembro de 2010 e março de 2011, da nascente do Pajeú, em Brejinho, até Floresta. Ao todo, foram entrevistados 26 poetas. A partir desses encontros, Inácio França escreveu o perfil dos autores.
“O Pajeú é um ambiente de poesia. Queríamos descobrir o olhar do poeta sobre a região onde ele mora”, explica Inácio. “Durante as viagens estávamos abertos à possibilidade de encontrar algo novo e surpreendente. Não é uma coletânea de poesia, não é um catálogo com os melhores poetas. Também não é um livro de reportagem. São perfis, depoimentos. Tento reproduzir no livro o clima de diálogo com o poeta. Me coloco como intermediário entre o poeta e o leitor”, ressalta.
Através desses textos, pesquisadores parecem refletir sobre a tradição da história oral, a maneira como a expressão e a sonoridade das palavras vão além do prazer estético e se materializam como uma construção social, a identidade de uma região.
Alexandre ramos esclarece que a seleção de poetas, escolhidos previamente por Cida Pedrosa – com mudanças, dependendo do que os pesquisadores apuravam nos locais – não teve determinações rigorosas. “Nossa ideia era não somente falar sobre os poetas famosos do Pajeú – já existem coletâneas sobre eles -, mas pesquisar também os anônimos, os jovens que começaram a desenvolver poesias, e alguns esquecidos, como Anita Catota. Ela foi um achado. Uma senhora de 70 e poucos anos que continua pensando de forma poética. Ela só conversa em rimas”, destaca.
Outro poeta cuja história prende o leitor é Diomedes Mariano, que divide o tempo entre a criação artística, a viola e as canções, e a gerência de um estabelecimento comercial que pertence ao tio.
O livro traz, no título, uma metáfora sobre a condição ao mesmo tempo permanente e ausente no rio da vida cotidiana dos habitantes. “A frase é de Dedé Monteiro, um dos principais poetas”, lembra Alexandre. “Perguntamos para ele o que era o Rio Pajeú, e ele respondeu: ‘O rio que não passa’. É uma frase de dois significados. Para ele, onde que que esteja, o Pajeú está sempre na sua cabeça; mas, ao mesmo tempo, é o rio que não tem água boa parte do ano”, explica.
Folha de Pernambuco.

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