quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Perseguição religiosa: o holocausto dos tempos modernos



Do Edito de Milão à imposição da sharia, gravita uma verdade elementar: enquanto a liberdade religiosa não for uma realidade (universalmente reconhecida ou vigente), a humanidade não gozará jamais, plenamente, dos demais direitos.

O martírio dos primeiros cristãos, exemplificado pela degolação de Santa Margarida durante a perseguição de Diocleciano, até os terríveis casos atuais de torturas e assassinatos contra os cristãos, mostram ao mundo que o crente não se resigna a entregar sua fé e que a verdadeira catacumba é a moradia dos que temem uma ideia clara: a inaceitabilidade da confusão entre poder político e convicção religiosa.

Em momentos nos quais o mundo transforma em direito a menor aspiração e o defende com unhas e dentes em nome da liberdade de escolha, dá-se a mais cruel opressão religiosa da modernidade.

A sangrenta perseguição dos cristãos pelo império romano também surpreendeu a sociedade da época, pois parecia contradizer sua habitual política tolerante. Ainda que as religiões daquele tempo se identificavam geralmente com os diversos povos e não era incomum acolher no próprio Panteão religioso deuses de outros povos, os cristãos rejeitavam taxativamente toda tentação de amalgamação.

Eles não estavam dispostos a oferecer sacrifícios ao imperador autoproclamado deus. Cristo era o único Senhor, e com isso o cristianismo mostrava lúcida consciência de ser uma religião não nacional nem politeísta, mas universal e monoteísta, de fé em uma Revelação histórica.

Hoje, a violência contra os cristãos na Síria e em alguns países africanos e asiáticos é uma das piores perseguições do terceiro milênio. Mas o cristianismo parece crescer em meio à adversidade: o maior registro de aumento de conversões procede precisamente dessas regiões do mundo.

Por que o cristianismo cresceu no imponente império romano? Porque não se tratava de uma estratégia, impensável em um grupo reduzido, sem passado nem perspectivas de domínio futuro, mas de propagar uma religião testemunha de amor ao “próximo”, formada por membros que se convertiam pessoalmente, questionando ou sacrificando todo tipo de laços familiares, sociais e culturais.

Sentiam-se romanos, amavam sua pátria e respeitavam as autoridades como “poder estabelecido” (São Paulo), mas eram conscientes de que não podiam exigir-lhes nada que fosse contra a sua consciência. Por isso, pediam proteção dos seus direitos como comunidade e, progressivamente, para os das pessoas.

Enquanto circularem discursos vazios dos grandes temas éticos, começando pelo do respeito incondicional da plena dignidade humana de todos, estaremos diante de um dos mais degradantes cenários de intolerância desde os sanguinários primeiros séculos. O fundamentalismo continuará traçando o mapa das antigas regiões da mais aguda repressão.

Continuaremos vivendo na Palestina, Macedônia, Alexandria, Éfeso e Tarso. E o horrendo espetáculo de centenas de cadáveres carbonizados em Borno, devido aos ataques de Boko Haram bombardeando igrejas lotadas, recordará o martírio de Estêvão ou o Coliseu e seus espetáculos demenciais. 

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