quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Preso o suspeito de extorsão do Padre de Lagoa Grande Sertão de Pernambuco

José Alexandro Diógenes (C) conversou com a imprensa
ao deixar sede do GOE (Foto: Débora Soares / G1)
O suspeito de ter extorquido o padre pernambucano José Rogério de Souza Quirino, 47 anos, informou, na tarde desta terça-feira (11), em entrevista à imprensa, que recebia dinheiro do religioso porque mantinha relações sexuais com ele. "Era como se eu fosse um garoto de programa. Trocava dinheiro pelo sexo. Nunca ameacei, nunca fiz chantagem", disse José Alexsandro Diógenes, 33 anos, preso em flagrante nesta manhã, no Aeroporto Internacional do Recife, na Zona Sul da capital.

José Alexsandro conversou com jornalistas enquanto saía da sede do Grupo de Operações Especiais (GOE), no Cordeiro, Zona Oeste, e era levado para o Instituto de Medicina Legal (IML), em Santo Amaro, área central da cidade, onde realizou exame de corpo delito antes de ser encaminhado ao Centro de Triagem (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife.

O advogado do padre e assessor jurídico da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Hernesto Cavalcanti, acompanhou a prisão do casal. À tarde, ele conversou com a TV Globo. "Tempos atrás, ele ajudou esse casal, e continuou por um certo tempo, ora vinha a mulher ora vinha o marido. Logo essa ajuda se tornou exigência, os valores foram aumentando. Teve um dia que ele teve que desembolsar R$ 8.200", relatou.

O que a polícia já apurou

O diretor do GOE, Cláudio Castro, disse que não iria revelar como acontecia a extorsão ou quanto o casal recebeu do padre. "Vocês não vão ouvir da minha boca como eles conseguiam o dinheiro, já que envolve uma instituição [a Igreja]. Também não vamos divulgar quanto eles receberam no total. Só hoje [11], foram R$ 5 mil e isso já vem acontecendo desde 2012", limitou-se a dizer.

A versão do suspeito é que eles começaram um relacionamento quando o padre atuava em Orobó, no Agreste de Pernambuco, e o casal morava em Umbuzeiro, na Paraíba. "Quando dormimos juntos pela primeira vez, ele disse que tinha uma casa em Carpina e que a gente podia se encontrar lá. Nunca exigi dinheiro, acho que ele me dava porque tinha medo que eu contasse", disse José Alexsandro.

Segundo o delegado, o padre disse, em depoimento, que fazia os pagamentos porque o casal afirmava que ia espalhar "um rumor" se não recebesse a quantia, mas o delegado não quis dizer que rumor seria esse. Padre Quirino também afirmou que se mudou de Orobó para Lagoa Grande, cidade próxima a Petrolina, no Sertão, para fugir do casal, mas eles continuaram a chantageá-lo por telefone, até que em janeiro o religioso entrou em contato com a polícia.

"O padre não devia nada, mas diziam que se ele não desse o dinheiro, iam espalhar boatos pela cidade. Ele pediu transferência para Salgadinho, depois para Petrolina. Chegaram ao ponto de falarem para o padre que eles o seguiriam aonde fosse", disse Hernesto Cavalcanti.

Vocês não vão ouvir da minha boca como eles conseguiam
o dinheiro', disse o delegado Cláudio Castro
(Foto: Débora Soares / G1)
"O GOE começou a investigar, acompanhando as ligações. Quando eles pediram R$ 10 mil, o padre disse que não tinha condições financeiras para pagar a quantia, então acertaram em R$ 5 mil. Como ele viria para o Recife de avião, concordaram em fazer a entrega do dinheiro ainda dentro do aeroporto. Quando o padre saiu da mesa onde foi feita a negociação, prendemos os dois em flagrante", disse o delegado Cláudio Castro.

"Minha mulher é obesa e íamos usar o dinheiro para pagar uma cirurgia de estômago. Ele disse que podia nos ajudar. Só queria poder falar com ele agora para dizer: tá vendo o que você fez? Pior para nós dois", disse o suspeito. A esposa dele, Maria José Araújo da Silva Diógenes, 22 anos, também foi presa e levada para o IML. Após o exame, ela foi para a Colônia Penal Feminina, no Recife.

Se condenado, o casal pode pegar até dez anos de prisão. Ainda de acordo com Cláudio Castro, outras pessoas serão ouvidas no inquérito, que deve ser concluído em até dez dias.

Questionado se haveria algum tipo de punição para o religioso, Hernesto Cavalcanti foi categórico ao negar essa possibilidade. "Não vai acontecer absolutamente nada, o padre não cometeu nenhum erro ao ponto de vista canônico. Ele defendeu-se de um casal que o extorquia por medo. O padre não cometeu nenhum crime do ponto de vista da Igreja", apontou.

Cavalcanti disse ainda que o bispo Dom Severino de França está no exterior e avalia a possibilidade de indicar um representante para conceder uma entrevista coletiva à imprensa sobre o caso. Dom Severino é o líder da diocese de Nazaré da Mata, onde o padre Quirino atua, no momento.

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